quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os intensos anos 20

A Fortaleza dos anos 20 progredia a passos largos. De acordo com censo de 1920, sua população é de 78.000 habitantes. As ruas ainda eram iluminadas com gás carbônico, mas as casas já tinham energia elétrica. Desde 1913, o transporte na cidade era feito por bondes elétricos, que substituíram os bondes puxados a burros. O serviço era administrado por uma empresa canadense. Em 1926 começou a ser instalada a água encanada.

Foto dos anos 20, na qual o observador, situado num canto da Praça do Ferreira, está olhando para a Rua Guilherme Rocha no sentido da Praça José de Alencar  


As indústrias floresciam. Fábrica de tecidos progresso, Fábrica Siqueira Gurgel de óleo e sabão, cigarros, calçados, curtumes, bebidas. Mas a cidade já demandava um porto de maior envergadura para carga e descarga de mercadorias.

No comentário de Raimundo Girão, “as obras federais, contratadas com o objetivo de resolver o problema das secas, em 1920, atraíram para Fortaleza um clima de novidades, de feição algo pinturesca. Viu-se, duma hora para outra, a gente prata-de-casa em mistura com dolicocéfalos louros e pretos barbadianos, americanos, ingleses que, arrotando fama de técnicos, vinham fracassar nos serviços de construção do porto do Mucuripe”. 

O comércio se desenvolvia bem mais que a indústria. Só o algodão, durante a safra, movimentava uma imensidão de comboieiros, freteiros, lojistas e donos de mercadorias que fervilhavam pelas ruas da cidade. As trocas comerciais eram sempre feitas com as cidades do interior. Além de Aracati, Icó e Sobral, agora se destacavam as cidades de Baturité, Quixadá e Juazeiro do Norte. Os caixeiros (como eram chamados os funcionários do comércio da época) tinham uma organização sólida e poderosa chamada Fênix Caixeiral.  

 Cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e Guilherme Rocha, com a Praça do Ferreira e o Palacete Ceará ao fundo. (Registro de 1925 clolorizado à mão) 

Os governantes e a elite local continuavam com a mesma mentalidade artificialmente afrancesada. Começava que muitas casas comerciais eram administradas por estrangeiros franceses como a famosa casa Boris Frères, filial da casa francesa de mesmo nome. Tinha também Benoit Levy & Dreyfuss, Levy Fréres, Reishofer Frère, Clement Levy e Felix Liabastres, todas eram casas de comércio de propriedade de franceses. Até as reformas na cidade e os prédios públicos ainda inspiravam-se nos franceses. O Mercado de Ferro, tido como o mais belo e confortável da América do sul, foi projetado e construído na França.

A Praça do Ferreira estava sendo reformada, ganharia uma nova iluminação à luz elétrica. A Praça Marquês do Herval (atual José de Alencar), toda ajardinada e enfeitada com colunas de mármore vindas de Portugal, mas ao gosto francês, era passeio obrigatório para grande número de famílias e as suas crianças. 

 Rua Major Facundo em 1928, com ângulo de visão na direção do Passeio Público 

É nesse período que Fortaleza começa a se expandir rumo ao leste, para a Aldeota e para o Meireles. Na Aldeota começam a surgir residências grandes, modernas e em lotes maiores que abrigavam as famílias mais abastadas. No início, a Aldeota acompanhava a Avenida Santos Dumont e estendia-se até onde hoje fica a Avenida Barão de Studart - ponto onde final da linha do bonde. No Meireles é que seriam erguidas mais tarde as sedes dos clubes sociais da alta sociedade, como o Náutico, o Clube Ideal, Clube dos Diários, entre outros.

Agora, disponibilizamos um vídeo realmente raro, retratando cenas da Fortaleza dos anos 20. É possível que a fita original fosse bem mais longa e apresentasse várias outras cenas urbanas de época. Além disso, na tentativa de recuperar o material já bastante danificado, o filme teve ainda vários metros perdidos definitivamente, durante o processo de cópia na velocidade adequada para receber gravação sonora. É obvio que a qualidade deixa muito a desejar, mas vale a pena conferir. 



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